claudia ao extremo
quinta-feira, 19 de novembro de 2009
Ele esta em todo lugar
Quando Ketu completou 12 anos, foi mandado para um mestre, com o qual estudou até completar 24. Ao terminar seu aprendizado, voltou para casa cheio de orgulho.
Disse-lhe o pai: “como podemos conhecer aquilo que não vemos? Como podemos saber que Deus, o Todo Poderoso, está em toda parte?”
O rapaz começou a recitar as escrituras sagradas, mas o pai o interrompeu: “isso é muito complicado; não existe uma maneira mais simples de aprendermos sobre a existência de Deus?”
“Não que eu saiba, meu pai. Hoje em dia sou um homem culto, e preciso desta cultura para explicar os mistérios da sabedoria divina”.
“Perdi meu tempo e meu dinheiro enviando meu filho ao mosteiro”, reclamou o pai.
E pegando Ketu pelas mãos, levou-o a cozinha. Ali, encheu uma bacia com água, e misturou um pouco de sal. Depois, saíram para passear na cidade.
Quando voltaram para casa, o pai pediu a Ketu: “traz o sal que coloquei na bacia”.
Ketu procurou o sal, mas não o encontrou, pois já se havia dissolvido na água.
“Então não vês mais o sal?”, perguntou o pai.
“Não. O sal está invisível”.
“Prova, então, um pouco da água da superfície da bacia. Como está ela?”
“Salgada”.
“Prova um pouco da água do meio: como está?”
“Tão salgada como a da superfície”.
“Agora prova a água do fundo da bacia, e me diz qual o seu gosto”.
Ketu provou, e o gosto era o mesmo que experimentara antes.
“Você estudou muitos anos, e não consegue explicar com simplicidade como o Deus Invisível está em toda parte”, disse o pai. “Usando uma bacia de água, e chamando de “sal” a Deus, eu poderia fazer qualquer camponês entender isso. Por favor, meu filho, esqueça a sabedoria que nos afasta dos homens, e torne a procurar a inspiração que nos aproxima”.
Paulo Coelho
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