claudia ao extremo

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quinta-feira, 19 de novembro de 2009

O lago e Narciso


Quase todo mundo conhece a história original (grega) sobre Narciso: um belo rapaz que, todos os dias, ia contemplar seu rosto num lago. Era tão fascinado por si mesmo que, certa manhã, quando procurava admirar-se mais de perto, caiu na água e terminou morrendo afogado.

No lugar onde caiu, nasceu uma flor, que passamos a chamar de Narciso.

O escritor Oscar Wilde, porém, tem uma maneira diferente de terminar esta história. Ele diz que, quando Narciso morreu, vieram as Oréiades – deusas do bosque – e viram que a água doce do lago havia se transformado em lágrimas salgadas.

“Por que você chora?”, perguntaram as Oréiades.

“Choro por Narciso”.

“Ah, não nos espanta que você chore por Narciso”, continuaram elas. “Afinal de contas, todas nós sempre corremos atrás dele pelo bosque, você era o único que tinha a oportunidade de contemplar de perto sua beleza”.

“Mas Narciso era belo?”, quis saber o lago.

“Quem melhor do que você poderia saber?”, responderam, surpresas, as Oréiades. “Afinal de contas, era em suas margens que ele se debruçava todos os dias”.

O lago ficou algum tempo quieto. Por fim, disse: “eu choro por Narciso, mas jamais havia percebido que era belo. Choro por ele porque, todas as vezes que ele se deitava sobre minhas margens, eu podia ver, no fundo dos seus olhos, a minha própria beleza refletida”.
Paulo Coelho

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